Mrcio Cavalca Medeiros
A cada baile que participo me conveno de que todo baile igual, todas as personagens so iguais, conjuntos musicais semelhantes, repertrio de msicas equivalentes e o modelo de organizao parecido. O que muda, talvez, a ornamentao. Ouso dizer que at mesmo o cardpio tem muitos detalhes copiados. Enfim, no consigo enxergar diferena entre um baile ou outro. Estive na semana passada no baile carnavalesco da Baguna do Circo, e percebi diferenas interessantes em se tratando de um baile carnavalesco com um pblico diferenciado.
J percebi, seja em formatura, casamentos, aniversrios solenes, e eventos de grande exibio, de que o pessoal envolvido diretamente investe em roupas e demais preparativos, utilizando-se de muitas horas na preparao com detalhes que muitas vezes passam despercebidos. Incio do evento sempre tudo lindo, tranqilo e agradvel. Num determinado momento, atingimos a parte da refeio que sempre causa certo tumulto, principalmente com as filas interminveis em que temos que ficar em p com o prato vazio na mo esperando a nossa vez, mas depois disso tudo igual... vira tumulto, desorganizao e momentos de pura exaltao. Penso que seja nesse momento que o baile se torna banalizado, afinal, homens e mulheres que chegaram todos engomadinhos, passam por uma transformao total a ponto de homens ficarem s de calas e as mulheres todas desmanchadas, derretidas, bagunadas: irreconhecveis de to horrorosas. Seria a bebida a culpada? A grande intensidade de felicidade que se explode sem saber como e quando?
Nesse momento mistura-se todo e qualquer tipo de ritmo musical, num volume incompreensvel, com qualquer tipo de manifestao fsica diferente de dana. nesse ponto que acredito no fato de que os bailes de salo, deixaram de ter valor e o verdadeiro significado. Se toda e qualquer festa termina em Carnaval, ou ento em bailo, ou ento em tecnodance, onde est a fora de um baile caracterstico? At os famosos Bailes do Havai, dos Anos Dourados, das Debutantes, ou qualquer outro que tenha um tema...??!!! se tudo vira festa com qualquer ritmo, qualquer melodia, qualquer conjunto musical, qualquer motivo, para que ter o baile disso ou daquilo? Realmente faz sentido os clubes sociais no conseguirem atrair pessoas para bailes tradicionais, pois tudo acaba em Carnaval. Este baile ficou banal.
O Baile da Baguna do Circo se fortalece por combater tudo isso, ou seja, se mantm firme aos princpios do baile em si. Estive no baile quando era no salo do Marlia Tnis Clube e estive no Golden Palace. Mantiveram as caractersticas temticas e melhoraram a recepo e principalmente a segurana. Essa a fora deste baile, pois, em momento algum ouvi outro tipo de msica a no ser carnavalesca, e no ach, sertanejo, clssicos ou qualquer outro tipo. O pouco que tocaram fora do ritmo das tradicionais marchinhas inocentes, percebeu-se nitidamente o esvaziamento das pessoas no centro do salo. At mesmo com a apresentao de uma escola de samba da cidade, ficou claro que o desejo da maioria era o saudosismo e as marchinhas.
Sempre quando vou a um baile desses em que tudo vira nada, digo que at o momento da refeio possvel aproveitar para conversar, rever amigos, matar a saudade com pessoas distantes, ouvir e ver o que as pessoas falam e mostram e ter momentos agradveis. Depois do jantar resume-se em barulho, escurido, desorganizao e demonstrao de comportamentos pessoais nada normais, convidativos para que nos recolhemos para casa, com dor de cabea, de ouvido e muitas vezes com fome. Lamento que o tempo at a sesso desmanche seja pouco. Poderamos criar uma situao para estender mais este perodo e diminuir o desmanche. Venho notando que a sesso descarrego, tem conseguido mais espao nos eventos a ponto, inclusive, de distriburem badulaques que no consigo entender pra que?
Talvez o peso de quase meio sculo de vida esteja me fazendo ver a coisa desse ngulo, mas no posso deixar de registrar o ambiente gostoso proporcionado pelo pessoal da Chcara O Circo, que promove este evento h anos e a cada edio tem ficado melhor. Realmente foi um autntico Baile de Carnaval, com fantasias, blocos carnavalescos, pessoas de maior idade, sem lcool, sem confuso, puro momento de muita saudade. Naturalmente os jovens no gostam e nem l estiveram para notar a diferena.
Da mesma forma que passei a freqentar o Carnaval de Rua, com os desfiles em escolas de samba, passarei a freqentar o Baile do Circo, mas da prxima vez irei fantasiado, pois, fiquei frustrado de no ter brincado a noite toda num tpico e verdadeiro baile de Carnaval, com a mulher que amo, sem a sesso desmanche ou descarrego. Parabns aos organizadores que no deixam a tradio acabar e que revitalizam os sonhos dos mais antigos em relembrar tempos que no voltam mais, mas que neste tipo de baile promovido pela Chcara O Circo nos remete a momentos prazeirosos.
Mrcio Cavalca Medeiros radialista, jornalista e empresrio. E-mail: marcio@medeiros.jor.br. BLOG: marcio-medeiros.blogspot.com.br
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